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quinta-feira, 31 de março de 2011

CILADAS DO EU



Todos nós carregamos uma profunda necessidade de impactar de forma positiva as pessoas que nos cercam. Nosso ser clama desesperadamente por reconhecimento e admiração. Nossa ânsia por uma boa auto-estima é como um poço profundo, um vazio insaciável que nunca dirá: Estou suprido! Por maiores que sejam as realizações que alguém possa alcançar, todas elas terão um limite e um prazo de validade.

Li em algum lugar, que cedo ou tarde, alguém se encarregará de colocar os nossos troféus no cesto do lixo. Por isso a Palavra de Deus nos adverte: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo. O mundo passa e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” - 1 João 3.15-17. (NVI)

Somente Deus pode preencher nosso vazio. Toda tentativa de saciar a auto-estima nos valores do mundo é inútil, pois nada daquilo que encontramos aqui é realmente seguro ou definitivo e o nosso ser anseia por algo que seja eterno. Assim, somente quando encontramos a fonte da vida, quando somos reconciliados com nossa verdadeira origem e destino, o nosso ser se aquieta. Talvez ninguém tenha expressado esse estado de alma de um modo tão real e tão poético como o Rei Davi: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre” – Salmo 131.1-3.

É possível alcançar esse estágio de maturidade espiritual? Sim. É fácil? Não, pois mesmo para aqueles que já passaram pela porta apertada da conversão, resta ainda o difícil desafio de aprender andar pelo caminho estreito, esse pequeno espaço onde toda a nossa segurança repousa exclusivamente em Deus. Pode parecer contraditório, mas somente é livre aquele que consegue se mover dentro desse estreito limite; somente pode viver sem grandes preocupações consigo mesmo, “aquele habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente” – Salmo 91.1.

Eu sei que isso funciona; é o alvo que venho tentando alcançar, mas frequentemente travo grandes batalhas comigo mesmo, por perceber o quanto minha velha natureza ainda quer roubar a cena.

Há poucos dias tive uma longa conversa com uma pessoa bem-sucedida. Dessas pessoas que alcançaram de forma lícita os seus objetivos e que por conseqüência, despertam merecida admiração. Então, talvez impressionado com seu testemunho, ao invés de falar abertamente das minhas próprias convicções, me vi concordando com tudo o que ela dizia. Por alguma estranha razão busquei mais ser simpático do que ser verdadeiro.

Depois, a sós com Deus, fiquei profundamente envergonhado. Por que eu não fui mais claro quando lhe falei a respeito da minha fé? Por que concordei com conceitos que de fato não concordo? Por que me senti pressionado a ser simpático? Que vantagem eu obtive agindo desse modo? Definitivamente Jesus não agiria assim!

Não sei ao certo o que aconteceu, mas sei que ao me permitir qualquer distração, volto a manifestar as atitudes de uma pessoa da qual sinceramente não tenho a mínima saudade. Talvez muitos até gostassem dela, mas só eu sei o tamanho do vazio que havia em seu interior e o peso do fardo que carregava nas costas.

Pr.Armando Paulo Castoldi