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sábado, 30 de julho de 2011

As três espécies de amizade em Aristóteles



Nos livros VIII e IX de sua obra “Ética a Nicômaco”, Aristóteles discorre, em sua característica sistematicidade, sobre a natureza da amizade. Sendo este um tratado de ética, a discussão sobre a amizade se faz necessária, pois ela é, segundo o estagirita, ou uma virtude ou implica virtude, e é, além disso, extremamente necessária à vida. “Com efeito”, afirma o filósofo, “ninguém escolheria viver sem amigos, ainda que dispusesse de todos os outros bens, e até mesmo pensamos que os ricos, os que ocupam altos cargos, e os que detêm o poder são os que mais precisam de amigos; de fato, de que serviria tanta prosperidade sem a oportunidade de fazer o bem, se este se manifesta sobretudo e em sua mais louvável forma em relação aos amigos?”
As amizades podem ser classificadas, conforme o discípulo de Platão, em três tipos distintos. Essas espécies de amizade fazem referência às qualidades que as fundamentam. Elas são: 1) a amizade segundo o prazer, 2) a amizade segundo a utilidade e 3) a amizade segundo a virtude, ou a amizade perfeita.
Aqueles que fundamentam sua amizade sobre o prazer o fazem por causa daquilo que é agradável em um para o outro. Pessoas espirituosas, por exemplo, têm muitas amizades não por causa do seu caráter, mas sim devido ao prazer que podem proporcionar umas às outras. 
A amizade segundo a utilidade é estabelecida pelo bem que uma pessoa pode receber da outra. Mais uma vez, as pessoas envolvidas neste tipo de relação não se amam por causa do seu caráter, mas sim devido a uma utilidade recíproca.
Já a amizade segundo a virtude só pode se estabelecer entre os homens que são “bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos.”. Como estes homens são raros, amizades assim também são raras.
Tanto a amizade segundo o prazer quanto a amizade segundo a utilidade são geralmente efêmeras, passageiras, se desfazendo facilmente. Isso ocorre quase sempre se uma das partes não permanece como era no início da amizade, isso é, se deixa de ser útil ou agradável. Por essa razão, “quando desaparece o motivo da amizade, esta se desfaz, pois existia apenas como um meio para se chegar a um fim.”. 
Nos deparamos com este tipo de amizade em quase todos os períodos de nossa vida. Ao nos lembrarmos das relações que mantínhamos na escola, por exemplo, podemos identificar facilmente quantas e quais não foram as amizades que estabelecemos segundo o prazer. As chamadas pessoas espirituosas, isso é, aquelas pessoas chistosas, cheias de vivacidade e de graça, mantêm quase sempre um amplo círculo de amizade. Mas isso não se deve ao que são em si mesmas, e nem por causa do seu caráter, mas apenas por causa do prazer que podem proporcionar aos outros.
As amizades segundo a utilidade são também de natureza semelhante. Podemos identificá-la, por exemplo, nas relações de trabalho entre os funcionários de um escritório. Ou então quando temos uma equipe ou um grupo que luta por um objetivo ou por um bem comum. Essas pessoas, neste caso, não se amam e não desejam a companhia umas das outras por si mesmas, mas mantêm uma relação de amizade porque isso resultará em um bem para si próprias.
Mas a amizade segundo a virtude, ou a amizade perfeita, como a chama Aristóteles, é perfeita “tanto no que se refere à duração quanto a todos os outros aspectos, e nela cada um recebe do outro, em todos os sentidos, o mesmo que dá, ou algo de semelhante.”. 
Neste tipo de amizade, as pessoas querem o bem uma da outra. Esses homens que são assim amigos buscam verdadeiramente o bem do seu semelhante, e isso pelo simples fato de serem bons. Eles “serão amigos por si mesmos, isto é, por causa de sua bondade.”. 
Os homens maus têm amizades apenas segundo o prazer ou a utilidade, nunca podendo ter uma relação virtuosa, ou uma amizade perfeita. No entanto, os homens bons, por sua vez, podem estabelecer relações segundo o prazer ou a utilidade, assim como os maus. Mas apenas os bons podem estabelecer uma amizade segundo a virtude. Neste sentido, fica clara a correspondência entre ética e amizade.
Por Glauber Ataide
FONTE: www.perfeição.org

6 comentários:

  1. É verdade mana, mas vou te dizer algo. Amizade é diferente de coleguismo, coleguismo não se sustenta, pois geralmente é uma amizade de grupos, onde se tem sempre um que é o cabeça que manipula, e todos são levados pelo cabeça, e influencia OS OUTROS. Mas, se um neste meio deixar de obedecer o cabeça, o grupo de desfaz, sabe porque?? porque não era amizade mais apenas coleguismo, e destes mana, eu quero distância rs.. . Amizade se respeita o outro, entende o outro, aceita o outro com todo os seus defeitos, ama incondicionalmente. Vou te ser sincera, eu tenho amizades na vida real que vou levar para o resto da minha vida, e tenho aqui no virtual algumas que também sei que posso confiar. Mas vou lhe dizer, não enche uma mão rss. Amizades sinceras são poucas. Tenho uns aqui no virtual que posso confiar tremendamente,e sempre nos falamos muito, sei da sua vida e estes sabem da minha, respeitamos os defeitos um do outro. Mas, quando temos que falar a verdade, falamos e não nos aborrecemos porque sabemos que ele falou para seu bem, e não porque não gosta de ti e só quer te ferir.

    Não apontamos, mas somos sinceros, e isso não é coleguismo é amizade verdadeira. Eu amo meus irmãos e amigos sinceros. Mana, tu sabes e já te disse isso, mas vou repetir aqui. Tu és importante para mim demais. Amo-te!

    Ah, odeio trairagem. rss. . bjs

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  2. Gosto muito deste poema, creio que dá para interpreta bem este assunto.

    É fácil trocar as palavras,
    Difícil é interpretar o silêncio!
    É fácil caminhar lado a lado,
    Difícil é saber como se encontrar!
    É fácil beijar o rosto,
    Difícil é chegar ao coração!
    É fácil apertar as mãos,
    Difícil é reter o calor!
    É fácil sentir o amor,
    Difícil é conter sua torrente!
    (Fernando Pessoa) Bjs mana!

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  3. Mana, isso é verdade, tenho também amizades verdadeiras,e eu sei que são, mas também não dá os cinco dedos de uma mão mana rsrsr... Amigo de verdade não é aquele que diz só o que você quer ouvir, é aquele que diz o que você precisa ouvir!é aquele que arrisca a própria amizade em nome da sincera tentativa de lhe fazer enxergar a verdade. Ele pode lhe dizer coisas que doam profundamente e que lhe façam ter a reação infantil e ingrata de romper a amizade com ele, mas mesmo assim ele diz o que precisa ser dito. Esse poema de Fernando Pessoa é dez! Mana,tu também sabes que és importante pra mim. Bjs mana

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  4. Helena! Acabei de te ver lá na Rô e resolvi passar aqui para matar saudades. Mas, quando seu blog abriu, até assustei com o post, porque é exatamente sobre amizade o assunto que vou publicar lá amanhã.

    Interessante esse texto do Aristóteles, eu não conhecia.

    Querida Helena, toda paz sobre tua vida, minha amiga.

    Abraços sempre muito afetuosos.

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  5. Obrigado pela visita amigos! pôxa que bom que vocês estão de volta!
    Esse post sobre amizade dentro de uma visão filosofica é realmente muito interessante!

    Grande abraço sempre afetuoso pra vocês também!

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  6. Oi Helena... Graça e Paz! Eu tenho muito mais a agradecer pelo carinho das pessoas que acessam o site e incentivo! Tento compartilhar aquilo que é útil para mim e facilitar o trabalho daqueles que são iniciantes, não tem recursos e não sabem ou não conhecem onde encontrar e ainda a qualidade deles. Já perdi tempo por não ter esse apoio, por isso quero poder ajudar outros. Seu blog também é muito legal e as meditações selecionadíssimas e muito inspiradoras! Deus te abençoe infinitamente mais! Em Cristo... Fausto

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